
Entretenimento
Andressa Parizotto Ledur
Acadêmica de publicidade e propaganda, artista e apaixonada por comunicação
LIVRO
Idioma, interpretação e controle
Publicado em: 21/09/2021
Particularmente, falar “toró de ideias” ao invés de “brainstorming” é bem mais legal. Além de não precisar ficar traduzindo, é um termo visual, em que imaginamos mais facilmente uma tempestade intensa de ideias com alguns raiozinhos e chuva
Faz cerca de dois anos que li 1984, do George Orwell. Aquele livro mesmo, que ficou em primeiro nos mais vendidos em qualquer site de livros nos últimos dois anos. Não é novidade que estamos vivendo em uma realidade distópica que junta esse, mais o contexto de “Admirável mundo novo”, e “Fahrenheit 451” (livros antigos, mas essenciais para entender nosso contexto político atual).

Em 1984, uma das referências que se destaca muito é a invenção da Novalíngua, o idioma que o governo do livro está trabalhando para implantar:
“Não se dá pela criação de novas palavras, mas pela condensação e remoção delas ou de alguns de seus sentidos, com o objetivo de restringir o escopo do pensamento. Uma vez que as pessoas não pudessem se referir a algo, isso passa a não existir. Assim, por meio do controle sobre a linguagem, o governo seria capaz de controlar o pensamento das pessoas, impedindo que ideias indesejáveis viessem a surgir.”
Não, não estou sugerindo que nosso governante atual queira mudar a língua portuguesa, nem que isso é um plano futuro do governo (esperamos!). Mas essa parte do “objetivo de restringir o escopo do pensamento” é muito familiar. Há muito tempo percebi que as pessoas se expressam muito melhor em sua língua-mãe.
Não importa o quão poliglota alguém seja, este não soará tão inteligente quanto quando se expressa em seu idioma de origem.
Isso entrou na minha cabeça junto com a linguagem publicitária. Palavras como “job”, “deadline”, “naming”, “brainstorming”, e uma infinidade de anglicismos que estão surgindo em nosso vocabulário podem muito bem tirar o sentido real que desejamos dar a eles.
A interpretação de qualquer frase é restrita aos signos que ela contém. A diminuição do uso do idioma brasileiro, substituindo-o por termos em inglês pode ser negativa, por afastar os significados reais das palavras, como no livro. Além disso, cada palavra que teve sua origem em nosso idioma tem sua própria história. Retirar ou substituí-las pode levar consigo a memória de uma cultura.
Apesar de tudo isso, o uso dos anglicismos e neologismos pode ser um benefício, quando analisado diante do contexto de globalização, facilitando a comunicação entre as línguas.
Bom… fica aqui a reflexão e a recomendação de um dos meus livros favoritos.
Até mais!