
Mulheres Líderes
Gisele Gomes
Gisele Gomes é embaixadora do Programa Rede Global de Mulheres Líderes – GWLN/WOCCU no Brasil
Interseccionalidade
Publicado em: 18/11/2020
“A mulher não existe”
Lacan
Lacan
“O fato é que a mulher, enquanto instituição única, generalizada, universalizada, não existe. Há muitas mulheres, com suas particularidades, histórias e individualidades”
A frase “A mulher não existe” proferida por Lacan abre o nosso debate entre escritora e leitor(a). Escrevo “debate”, porque desejo que essas colunas sejam um ponto de reflexão e convite a alguns conceitos. A psicanalista Maria Homem irá discorrer sobre o tema em um vídeo muito esclarecedor disponível no Youtube. Mas de forma resumida, o fato é que a mulher enquanto instituição única, generalizada, universalizada, não existe. Há muitas mulheres, com suas particularidades, histórias e individualidades.
Trago isto porque muitas vezes escuto de pessoas, homens e mulheres a seguinte asseveração: “as mulheres não gostam de tal palavra/expressão”... Mas é necessário nos perguntarmos, se eu sou uma mulher, e gosto ou não gosto de alguma coisa, onde estou contemplada? Nesta linha de raciocínio, trago o conceito de interseccionalidade que aspira abarcar as vivências e intersecções a que estão submetidas as mulheres; a fim de desconstruir a ideia de um feminismo único e global que tende a universalizar a categoria mulher.
O conceito é apresentado como uma sensibilidade analítica proposta por feministas negras com base em experiências e necessidades intelectuais inobservadas tanto no movimento antirracista, que tem como grande ênfase os homens negros, quanto no movimento feminista branco. O termo enquanto teoria crítica de raça foi cunhado pela intelectual afro-americana Kimberlé W. Crenshaw, em 1989, para designar a interdependência das relações de poder, raça, gênero e classe em um movimento denominado feminismo negro, e ganhou notoriedade acadêmica em 2001, durante a Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Formas Conexas de Intolerância, em Durban, na África do Sul (AKOTIRENE, 2019).
Entendo ser pertinente trazer neste contexto o perfil demográfico brasileiro. Segundo a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD – 2018), a população brasileira é composta por 51,7% de mulheres e 48,3% de homens. Ainda, negros (pretos e pardos) eram a maioria da população brasileira em 2014, representando 53,6% da população, e os que se declaravam brancos, 45,5%. Com base nestas informações poder-se-ia sugerir que se o Brasil tivesse um rosto, ele seria o rosto de uma mulher negra.
Tenho feito o exercício de ter mais empatia e olhar para o próximo com acolhimento e refletir sobre as intersecções que nos atravessam. Entendo que, enquanto mulheres e colocando a sororidade em prática, devemos ter este olhar mais inclusivo e agregador.