
Mulheres Líderes
Gisele Gomes
Gisele Gomes é embaixadora do Programa Rede Global de Mulheres Líderes – GWLN/WOCCU no Brasil
Etarismo e as mulheres
Publicado em: 14/04/2022
É preciso tomarmos cuidado e estarmos vigilantes em relação aos julgamentos e perceber que para cada temática existem muitas camadas de informações
O termo etarismo se refere ao preconceito ou discriminação contra ou a favor de um grupo etário. A palavra advém de “ageism” no inglês e foi cunhada pelo gerontologista Robert Butler em 1969 para definir uma forma de intolerância relacionada com a idade.
Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil, em 2016, tinha a quinta maior população idosa do mundo, e, em 2030, o número de idosos ultrapassará o total de crianças entre zero e 14 anos.
As questões ligadas a convivência de multigerações nas organizações vem ganhando cada vez mais espaço, mas o tema carece de compreensão e debates em todos os âmbitos da sociedade. De alguma forma, incitados pelo apelo ao consumo, um corpo “jovem” é visto quase como um elogio e um corpo “velho” como um xingamento.
Percebo que a temática afeta mulheres de forma ainda mais acentuada, pois sofremos preconceito tanto em âmbito organizacional quanto nas interações do dia a dia. Com a pandemia, muitas de nós deixaram de pintar o cabelo, assumindo assim seus fios grisalhos. Interessante perceber que aquilo que para os homens é um charme, para mulheres pode soar como desleixo.
É preciso tomarmos cuidado e estarmos vigilantes em relação aos julgamentos e perceber que para cada temática existem muitas camadas de informações e nuances. Ainda sobre a temática da tintura no cabelo, o que começou como símbolo de uma libertação de certos padrões, vem sendo colocada em xeque por novos julgamentos e se tornando uma nova prisão.
Recentemente, a antropóloga Mirian Goldenberg escreveu que tem observado nestes últimos dois anos uma cobrança em ambos os sentidos, de um lado a pergunta “por que você não pinta o cabelo?” denotando falta de cuidado, e do outro “por que você pinta o cabelo?” questionando se a mulher não consegue assumir de forma integral o envelhecimento.
Fato é que estamos diariamente sob escrutínio público. Envelhecer faz parte da vida e devemos honrar a ancestralidade. Segundo a sabedoria indígena, “o futuro é ancestral”; mas para isto precisamos aprender que toda a diversidade, incluindo idade, é uma riqueza. Somos feitos de contradições e ambivalências. Não julguemos outras mulheres, sejamos mais empáticas e coloquemos a sororidade em prática.
Grande abraço,
Gisele