
Pensata
Rejane Martins Pires
É jornalista e editora da Revista Aldeia.
Quanto custa um sorriso?
Publicado em: 17/07/2019
“Conhecemos um homem pelo seu riso; se na primeira vez que o encontramos ele ri de maneira agradável, o íntimo é excelente”
Dostoiévski
Não gosto de tangerina. Nem de poncã. Mas dia sim, dia não, apareço com um saco da fruta lá em casa. Quem faz este milagre é a Val. Podem chamá-la de “Carioca”. Ela fica ali na Vicente Machado com a Avenida Brasil. Frio. Neblina. Chuva. Não tem erro. A “Carioca” está lá. Sempre sorrindo. E não é qualquer sorriso.
Ela sorri para quem compra e para quem não compra. Ela sorri para quem abaixa o vidro ou para quem finge que não vê. Ela sorri para os gentis e para os irritados. Para os pobres e para os ricos. Para os ateus e para os crentes. Simples. Ela sorri. E, sorrindo, vende. E, vendendo, tem sua dignidade estampada no rosto.
Val é mestre em vender. Nunca estudou técnica alguma. Não sabe o que é neuromarketing. Não sabe o que é branding. Não sabe o que é um CRM. Mas sabe sobre a vida. E a vida lhe ensinou algo que às vezes nos custa aprender: coragem!
“Nunca deixe os outros perceberem que você está triste”, ensinou-lhe o pai adotivo. “Ninguém aqui precisa saber se estou com fome, com frio ou triste. Deixo pra chorar no travesseiro. Aqui, meu negócio é vender”, assevera.
Tanto foco assim tem explicação. Mãe de um adolescente de 17 anos, ela deixou o Rio de Janeiro há menos de três meses para “criar” o filho num lugar mais “esperançoso”. Chegou, alugou uma quitinete por R$ 420, jogou um colchão no chão e foi atrás de emprego.
Agarrou-se à primeira oportunidade e faz todos os seus dias valerem a pena! Esta é a Val, a carioca que vende frutas, mas entrega sorrisos e um repensar sobre a condição humana, sobre a condição da mulher, sobre justiça social e tantas outras coisas não tão doces quanto a própria tangerina que vende!