
Pensata
Rejane Martins Pires
É jornalista e editora da Revista Aldeia.
Piazada do djanho!
Publicado em: 15/10/2021
“Bem por isso mesmo diz o caboclo: a alegria vem das tripas — barriga cheia, coração alegre. O que é pura verdade”
Cora Coralina
Cora Coralina
Um vez por mês seo Diogo Chagas saía dos fundos da fazenda do meu pai, onde morava, para ir a Campo Bonito fazer o “rancho”. Encilhava o cavalo, ajeitava bem a badana (peça do arreio com bolsos laterais) e lá se perdia na estrada. Percorria os 20 quilômetros no trote.
Fazia as compras e voltava para a roça. No outro dia, chegava a entrega. Como era impossível descer de caminhão naqueles carreiros, descarregavam lá em casa. Era muita comida. Fardos e fardos de mantimentos. Mas o que mais de impressionava era a tal farinha de beijú.
Caboclos de tudo, os Chagas comiam beijú no café, almoço e janta. Foi com eles que aprendemos a comer o tal beijú com leite. Bem geladinho, fica uma delícia! Nas festas, eles eram os últimos a sair para arrematar tudo. Não sobrava nada: galeto, churrasco, pão, bolo, cuca...
Mas a história mais engraçada de seo Diogo foi numa de suas idas à cidade. Nunca tinha visto picolé. Ficou tão impressionado que resolveu levar para a piazada. Comprou alguns, colocou na badana e se mandou pra casa.
Apeou do cavalo, entrou, tomou um café e esperou a hora certa de distribuir a novidade. Quando foi pegar os “doces”, surpresa! Tudo derretido. Só os palitos pra contar história. Virou o “bicho” e disparou: “Piazada do djanho, comeram tudo e ainda mijaram na minha badana!”