
Pensata
Rejane Martins Pires
É jornalista e editora da Revista Aldeia.
Trânsito x transitar
Publicado em: 18/04/2022
Precisamos parar de idolatrar a velocidade! Isso é coisa do passado. Hoje deve-se pensar em mobilidade humana, sobretudo com segurança
O verbo “transitar” que, por acaso, batiza o nome da autarquia de trânsito de Cascavel é muito amplo do que se imagina. Está ligado aos percursos sociais e, por assim, dizer às pessoas. Trânsito não traz a conotação de “transitar”. Está mais associado a deslocamento, sobretudo de veículos, principalmente em Cascavel, cidade que prioriza o carro e que autoriza a velocidade!
As estatísticas, fornecidas pela própria Transitar (agora com letra maiúscula) não mentem. O trânsito de Cascavel é violento. Mortal. De 3.128 sinistros em 2020 subiu para 4.056 em 2021. No ano passado, foram 30 mortes e 1.192 vítimas com ferimentos. Some-se a isso muitos mutilados.
Aí fica a reflexão: a falta de uma discussão efetiva sobre o trânsito e sobre limites de velocidades. Em 2008, a OMS lançou o manual Gestão da Velocidade, com recomendações para governos acerca de políticas viárias.
O documento diz: “A maioria dos especialistas em segurança no trânsito concorda que o primeiro culpado pelo número de mortes nas vias públicas em todo o mundo é a péssima escolha da velocidade, comumente conhecida como uso de velocidade inadequada ou ‘excesso de velocidade’”.
Enquanto especialistas do mundo todo defendem a tese da redução da velocidade para melhoria da fluidez, Cascavel vive o retrocesso do aumento de velocidade. Binários abertos com a desculpa de garantir fluidez, se transformaram em verdadeiras pistas de corrida. E louco é o que não falta! Sugiro uma ampla discussão com quem realmente interesse: as pessoas!
Se a Transitar está com equipe pequena para atender a cidade toda, que se busque solução. De fato, é realmente desumano para três engenheiros, sendo somente um especialista em trânsito, pensar em estratégias. Por isso, a importância dos gestores seguirem os grandes líderes: ter a humildade e habilidade para escutar e discutir os problemas com a comunidade. As respostas, muitas vezes, complexas vêm desta troca de ideias, de pensamentos e de vivências.
Que a Transitar pense mais em “transitar” como um verbo que valoriza a mobilidade humana e não apenas a mobilidade urbana! Pensemos nisso! Uma mudança de cultura começa com o desprendimento de cada um. Sugiro ações mais efetivas para a redução da velocidade, mas os gestores precisam mudar o pensamento também: se aproximar mais das pessoas, criar vínculos com as comunidade. O mundo moderno é da proximidade e não do encastelamento!
Só para exemplificar, em 2020 a Espanha reduziu os limites de todas as vias urbanas de mão dupla para 30 km/h, a Holanda aprovou uma lei de redução para 30 km/h em todas as áreas urbanas e Paris estendeu o limite de 30 km/h para todo seu território, com exceção de alguns bolsões.
Bruxelas, capital da Bélgica, está com o limite de 30 km/h em toda a cidade e em Oslo, na Noruega, o limite de 30 km/h vale para todas as áreas escolares.
E nós? O que dizer de tantas mortes? Tantos acidentes? Quem será o próximo?
Para qualquer ação positiva, contem comigo!